Capítulos 106 e 107
Os Pandavas Voltam ao Lar, de Volta ao Supremo
e
A Retirada da Dinastia Yadu
Vamos transcrever o Srimad Bhagavatam de Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaja Srila Prabhupada, Primeiro Canto,
Capítulo Quinze "A Retirada dos Pandavas":
"Suta Goswami disse: Arjuna, o célebre amigo do Senhor Krishna,
estava desolado por causa de seu forte sentimento de separação de Krishna, acima
e além de todas perguntas especulativas de Maharaja Yudhisthira".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Como estava muito desolado, Arjuna estava praticamente em estado de choque, por
isso não foi possível responder propriamente as várias perguntas especulativas
de Maharaja Yudhisthira".
"Por causa da tristeza, a boca e o coração de lótus de Arjuna
secaram. Por isso, seu corpo perdeu todo brilho. Agora, na lembrança do Supremo
Senhor, ele mal podia pronunciar uma palavra de resposta".
"Ele controlava as lágrimas de tristeza que molhavam seus olhos
com muita dificuldade. Ele estava muito desolado porque o Senhor Krishna não era
mais visível, e sentia uma afeição crescente por Ele".
"Com a lembrança do Senhor Krishna e Sua amizade, benefícios,
parentesco íntimo e condução da quadriga, Arjuna, desnorteado e com a respiração
pesada, começou a falar".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"O Ser Vivo Supremo é perfeito em todas relações com Seus devotos puros. Sri
Arjuna é um dos devotos puros típicos do Senhor correspondente à relação
fraterna, e o relacionamento do Senhor com Arjuna é uma demonstração da amizade
em sua perfeição mais elevada. Ele não é apenas um bom amigo de Arjuna mas um
verdadeiro bem feitor, e para aperfeiçoar ainda mais, o Senhor o atou numa
relação familiar por arranjar o casamento de Subhadra com ele. E acima de tudo,
o Senhor concordou em ser o condutor da quadriga de Arjuna a fim de proteger Seu
amigo dos perigos da guerra, e o Senhor ficou realmente muito feliz quando
restabeleceu os Pandavas no governo do mundo. Arjuna se lembrava de tudo isso
repetidamente, e assim ficou desnorteado com tais pensamentos".
"Arjuna disse: Ó rei! a Suprema Personalidade de Deus, Hari, que
me tratava exatamente como um amigo íntimo, me abandonou. Por isso, meu poder
admirável, que maravilhava até os semideuses, não está mais comigo".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"O Senhor diz no Bhagavad-gita (10.41): 'Qualquer um que seja
especificamente poderoso e opulento em riqueza, força, beleza, conhecimento e
tudo que é materialmente desejável deve ser considerado como um produto duma
parte insignificante da totalidade plena da Minha energia'. Portanto, ninguém
pode ser poderoso independente em qualquer medida, sem ser dotado pelo Senhor.
Quando o Senhor descende na Terra junto com Seus companheiros liberados eternos,
Ele não só exibe a energia divina que possui como também dá o poder a Seus
devotos associados com a energia necessária para a execução da missão de Sua
encarnação. O Bhagavad-gita (4.5) também afirma que o Senhor e Seus
companheiros eternos descendem na Terra muitas vezes, mas o Senhor lembra de
todas as atuações das encarnações, enquanto os companheiros, pela Sua vontade
suprema, esquecem. Similarmente, o Senhor leva embora Consigo todos Seus
companheiros quando desaparece da Terra. O poder e energia concedidos a Arjuna
foram necessários para o cumprimento da missão do Senhor, mas quando Sua missão
foi cumprida, os poderes de emergência foram tirados de Arjuna, porque os
poderes maravilhosos de Arjuna, que atraíam a admiração até dos habitantes
celestiais, não eram mais necessários, e não eram destinados à volta para o Lar,
a volta ao Supremo. Se a concessão e retirada de poderes pelo Senhor são
possíveis até mesmo para um devoto como Arjuna, ou mesmo os semideuses do céu, o
que falar então sobre seres vivos ordinários que são insignificantes quando
comparados a tais grandes almas. Portanto, a lição é que ninguém deve ficar
orgulhoso com seus poderes emprestados pelo Senhor. A pessoa sã deve
preferivelmente ser grata ao Senhor por tais benefícios e deve utilizar esse
poder no serviço ao Senhor. O poder pode ser retirado a qualquer momento pelo
Senhor, por isso o melhor uso de tal poder e opulência é ocupá-los no serviço ao
Senhor".
"Eu acabei de perdê-Lo, e a separação Dele mesmo por um momento
torna todos os universos desfavoráveis e vazios, como corpos sem vida".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Na verdade, não existe ninguém mais querido por um ser vivo do que o Senhor. O
Senhor Se expande em inumeráveis partes e parcelas como swamsha e
vibhinnamsha. Paramatma é a parte swamsha do Senhor, enquanto as
partes vibhinnamsha são os seres vivos. Assim como o ser vivo é o fator
importante do corpo material, pois o corpo material sem o ser vivo não tem
valor, sem o Paramatma, o ser vivo não tem status quo. Da mesma forma,
Brahman e Paramatma não têm locus standi sem o Supremo Senhor Krishna.
Isso é plenamente explicado no Bhagavad-gita. Todos são interligados
entre Si, ou fatores interdependentes, assim em última instância o Senhor é o
summum bonum e portanto o princípio vital de tudo".
"Somente por Seu poder misericordioso fui capaz de vencer todos
os príncipes luxuriosos reunidos no palácio do rei Drupada para a seleção do
noivo. Com o arco e flecha, pude acertar o peixe alvo e conquistar a mão de
Draupadi".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Draupadi era a filha mais linda do rei Drupada, e quando era jovem, todos os
príncipes desejavam sua mão. Mas Drupada Maharaja decidiu dar a mão de sua filha
somente a Arjuna e planejou um jeito peculiar para isso. Havia um peixe no alto
do teto do salão da assembléia protegido por uma roda de quadriga. A condição
era que um príncipe tinha que acertar o olho do peixe através do orifício da
roda de proteção, e ninguém podia olhar direto para o alvo. Tinha um recipiente
com água no chão que refletia o alvo e a roda, e ninguém podia mirar diretamente
no alvo e sim olhar para a água trepidante do recipiente no chão. Maharaja
Drupada sabia bem que só Arjuna e alternativamente Karna poderiam ter sucesso
nesse plano. Mas mesmo assim, queria dar a mão de sua filha a Arjuna. Então, na
assembléia dos príncipes, quando Dristadyumna, o irmão de Draupadi, apresentou
todos os príncipes à sua irmã mais velha, Karna também estava presente na
disputa. Mas Draupadi rejeitou Karna com esperteza como rival de Arjuna, pois
disse a seu irmão Dristadyumna que não seria capaz de aceitar ninguém que não
fosse pelo menos um kshatriya. Os vaishyas e shudras estão
abaixo dos kshatriyas. Karna era conhecido como filho dum shudra.
Assim Draupadi evitou Karna com essa exigência. Arjuna disfarçado como um
brâmane pobre acertou o alvo difícil para o espanto de todos, e os príncipes,
especialmente Karna, entraram em combate com Arjuna, mas como de costume pela
graça do Senhor Krishna, ele venceu com sucesso o combate com os príncipes e
ganhou a valiosa mão de Krishna, ou Draupadi. Arjuna lamentava com a lembrança
do incidente na ausência do Senhor, por cujo poder unicamente ele era tão
poderoso".
"Por Ele estar ao meu lado, foi possível que eu conquistasse com
muita destreza o poderoso rei do céu, Indradeva, junto com seus companheiros
semideuses e consegui que o deus do fogo devastasse a floresta Khandava. E
somente por Sua graça, o demônio Maya foi salvo do incêndio da floresta Khandava,
assim pudemos construir nossa casa de assembléia com sua maravilhosa obra prima
de arquitetura, onde todos os príncipes se reuniram durante a realização do
Rajasuya yajña e lhe ofereceram homenagens".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"O demônio Maya Danava era morador da floresta Khandava, e quando a floresta foi
incendiada, pediu proteção a Arjuna. Arjuna salvou sua vida, assim o demônio
ficou grato. Ele retribuiu com a construção da maravilhosa casa de assembléia
dos Pandavas, que atraía a atenção de todos príncipes soberanos. Eles perceberam
o poder sobrenatural dos Pandavas, assim se submeteram e prestaram homenagens ao
Imperador. Os demônios possuem poderes maravilhosos e sobrenaturais para a
criação de maravilhas materiais. Mas sempre são elementos de perturbação para a
sociedade. Os demônios modernos são os cientistas materiais nocivos que criam
alguma maravilha material para a perturbação da sociedade. Por exemplo, a
criação de armas nucleares que causam pânico na sociedade humana. Maya também
era um materialista assim, e conhecia a arte de criar tais coisas maravilhosas.
Por isso, o Senhor Krishna queria matá-lo. Quando foi perseguido pelo fogo e
pelo disco do Senhor Krishna, abrigou-se no grande devoto Arjuna, que o salvou
do fogo da ira do Senhor Sri Krishna. Portanto, os devotos são mais
misericordiosos do que o Senhor, e no serviço devocional, a misericórdia dum
devoto é mais valiosa do que a misericórdia do Senhor. Tanto o fogo como o disco
do Senhor pararam de perseguir o demônio quando viram que o demônio se abrigou
num grande devoto como Arjuna. O demônio se sentiu obrigado a Arjuna e queria
prestar-lhe algum serviço em retribuição para mostrar sua gratidão, mas Arjuna
recusou em aceitar qualquer coisa em troca. O Senhor Sri Krishna entretanto
ficou satisfeito com o demônio que se abrigou em Seu devoto, e pediu a ele para
prestar serviço ao rei Yudhisthira com a construção da casa de assembléia
maravilhosa. O processo é que pela graça do devoto se obtém a graça do Senhor, e
pela misericórdia do Senhor se obtém uma chance de servir ao devoto do Senhor. A
maça de Bhimasena também foi presente de Maya Danava".
"Seu venerável irmão mais novo, que possui a força de dez mil
elefantes, por Sua graça, matou Jarasandha, cujos pés são adorados por muitos
reis. Esses reis foram presos para serem sacrificados no sacrifício
mahabhairava-yajña de Jarasandha, e foram libertados. Depois, prestaram as
devidas homenagens à Vossa Majestade".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Jarasandha era o poderoso rei de Magadha, e a história de seu nascimento e
atividades também é muito interessante. Seu pai, rei Brihadratha, também era um
rei de Magadha muito próspero e poderoso, mas não tinha filhos, apesar de casar
com as duas filhas do rei de Kashi. Desapontado por não ter filhos com suas duas
rainhas, o rei foi com as duas esposas para a floresta para a prática de
austeridades, onde foi abençoado por um grande rishi para ter um filho,
ele lhe deu uma manga para ser comida pelas rainhas. As rainhas fizeram isso e
logo ficaram grávidas. O rei ficou muito feliz ao ver as rainhas grávidas, mas
quando chegou a hora, as rainhas deram à luz uma criança dividida em duas
partes, uma de cada rainha. As duas partes foram jogadas na floresta onde vivia
uma grande demônia, e ela ficou muito contente em ter aquela carne delicada
junto com o sangue do recém nascido. Mas por curiosidade, ela juntou as duas
partes, assim a criança ficou completa e ganhou vida. A demônia era conhecida
como Jara, e sentiu pena do rei que não tinha filhos, então foi até ele e o
presenteou com a bela criança. O rei ficou muito contente com a demônia e queria
recompensá-la conforme seu desejo. A demônia expressou seu desejo de que a
criança tivesse seu nome, assim recebeu o nome Jarasandha, aquele juntado por
Jara, a demônia. De fato, Jarasandha nasceu como uma das partes e parcelas do
demônio Viprachitti. O santo que abençoou as rainhas para terem um filho era
Chandra Kaushika, que profetizou sobre a criança para seu pai Brihadratha.
Como possuía qualidades demoníacas desde o nascimento, tornou-se naturalmente um
grande devoto do Senhor Shiva, que é o Senhor de todas pessoas fantasmagóricas e
demoníacas. Ravana era um grande devoto do Senhor Shiva e assim também o rei
Jarasandha. Ele costumava sacrificar todos os reis capturados ao Senhor
Mahabhairava (Shiva) e com seu poder militar derrotou muitos pequenos reis os
quais prendeu para sacrificar a Mahabhairava. Há muitos devotos do Senhor
Mahabhairava, ou Kalabhairava, na atual província de Bihar, antiga Magadha.
Jarasandha era parente de Kamsa, o tio materno de Krishna, por isso, depois da
morte de Kamsa, o rei Jarasandha se tornou um grande inimigo de Krishna. O
Senhor Krishna queria matá-lo, mas também queria que os homens que o serviam nas
forças armadas não fossem mortos. Assim fizeram um plano para matá-lo. Krishna,
Bhima e Arjuna foram juntos até Jarasandha disfarçados como brâmanes pobres para
pedir doações a ele. Jarasandha nunca recusava caridade aos brâmanes, e também
realizava muitos sacrifícios, mesmo assim não tinha nenhuma relação com o
serviço devocional. O Senhor Krishna, Bhima e Arjuna pediram a Jarasandha a
caridade de lutar com ele, e foi decidido que Jarasandha lutaria somente com
Bhima. Assim eles eram convidados e combatentes de Jarasandha ao mesmo tempo.
Bhima e Jarasandha lutaram sem intervalos durante vários dias. Bhima ficou
desapontado, mas Krishna lhe deu indicações como Jarasandha foi juntado na
infância, assim Bhima o separou novamente e o matou. Todos os reis que estavam
presos no campo de concentração para serem mortos perante Mahabhairava foram
libertados por Bhima. Agradecidos aos Pandavas, eles prestaram homenagens ao rei
Yudhisthira".
"Foi somente Ele que soltou o cabelo das esposas dos canalhas
que ousaram desmanchar o penteado de sua rainha, que estava tão bem vestida e
santificada para a grande cerimônia do sacrifício Rajasuya. Nessa vez, ela caiu
aos pés de lótus do Senhor Krishna com lágrimas nos olhos".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A rainha Draupadi tinha um belo penteado que foi santificado na realização da
cerimônia do Rajasuya yajña. Mas quando foi perdida numa aposta,
Dushasana tocou seu cabelo santificado para insultá-la. Draupadi então caiu aos
pés de lótus do Senhor Krishna, e o Senhor Krishna decidiu que todas esposas de
Dushasana e companhia tivessem seus cabelos soltos como resultado da batalha de
Kurukshetra. Assim, depois da batalha de Kurukshetra, quando todos filhos e
netos de Dhritarastra morreram na batalha, todas esposas da família foram
obrigadas a soltar seus cabelos como viúvas. Em outras palavras, todas esposas
da família Kuru ficaram viúvas por causa do insulto de Dushasana a um grande
devoto do Senhor. O Senhor pode tolerar insultos para Si mesmo de qualquer
canalha pois o pai tolera os insultos do filho. Mas Ele nunca tolera insultos a
Seus devotos. Ao insultar uma grande alma, a pessoa perde todos os resultados de
atos piedosos bem como das bênçãos".
"Durante nosso exílio, Durvasa Muni, que come com seus dez mil
discípulos, conspirou com nossos inimigos para nos colocar numa situação
perigosa. Nesse momento, Ele (Senhor Krishna) apenas aceitou os restos da comida
e nos salvou. Quando aceitou os restos da comida, os munis reunidos que
se banhavam no rio, sentiram-se suntuosamente alimentados. E todos os três
mundos também se sentiram satisfeitos".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Durvasa Muni: Um poderoso brâmane místico determinado a observar os princípios
religiosos com grandes votos e sob severas austeridades. Seu nome está associado
a vários eventos históricos, e parece que o grande místico podia ser satisfeito
facilmente e aborrecido facilmente, como o Senhor Shiva. Quando ficava
satisfeito, podia conceder um grande benefício para o servidor, mas se ficasse
insatisfeito, podia causar a maior calamidade. Kumari Kunti, na casa de seu pai,
costumava administrar todo tipo de serviço aos grandes brâmanes, Durvasa Muni
ficou satisfeito com sua boa recepção e a abençoou com o poder de chamar o
semideus que desejasse. Deve-se saber que ele é uma encarnação plenária do
Senhor Shiva, e aceitou a direção sacerdotal do rei Swataketu pela ordem do
Senhor Shiva na realização do sacrifício de cem anos do rei. Às vezes, ele
visitava a assembléia parlamentar do reino celestial de Indradeva. Ele podia
viajar pelo espaço graças a seus grandes poderes místicos, e entende-se que ele
viajava por grandes distâncias no espaço, e até os planetas de Vaikuntha além do
espaço material. Ele viajou essas grandes distâncias durante um ano quando se
desentendeu com o rei Ambarisha, um grande devoto e imperador do mundo.
Ele tinha dez mil discípulos, sempre que visitava e era convidado dos grandes
reis, costumava estar acompanhado de inúmeros seguidores. Certa vez, visitou a
casa de Duryodhana, o primo inimigo de Yudhisthira Maharaja. Duryodhana foi
inteligente o bastante para satisfazer o brâmane de todas as formas, e o grande
rishi queria dar alguma bênção a Duryodhana. Duryodhana conhecia seus
poderes místicos, e também sabia que o brâmane místico podia causar um grande
dano se insatisfeito, assim planejou fazer o brâmane mostrar sua ira para seus
primos inimigos, os Pandavas. Quando o brâmane quis dar uma bênção a Duryodhana,
este desejou que ele visitasse a casa de Maharaja Yudhisthira, que era o mais
velho e líder de todos os primos. Mas seu pedido era que ele fosse visitá-lo
depois de terminar sua refeição com sua rainha, Draupadi. Duryodhana sabia que
depois da refeição com Draupadi seria impossível para Yudhisthira receber um
número tão grande de convidados brâmanes, assim o rishi ficaria
insatisfeito e causaria algum problema para seu primo Maharaja Yudhisthira. Esse
foi o plano de Duryodhana. Durvasa Muni concordou com a proposta, e se aproximou
do rei no exílio, conforme o plano de Duryodhana, depois que o rei e Draupadi
terminaram sua refeição.
Quando chegou na porta de Maharaja Yudhisthira, foi muito bem recebido de
imediato, e o rei pediu para ele terminar seus rituais religiosos do meio dia no
rio, enquanto a comida seria preparada. Durvasa Muni foi para o rio com seus
incontáveis discípulos para se banharem, e Maharaja Yudhisthira ficou muito
ansioso por causa dos convidados. Enquanto Draupadi não tivesse terminado sua
refeição, a comida podia ser servida para qualquer número de convidados, mas o
rishi, segundo o plano de Duryodhana, chegou lá depois que Draupadi
acabou sua refeição.
Quando os devotos estão em dificuldade, têm a grande oportunidade de lembrar do
Senhor com atenção concentrada. Assim, Draupadi pensou no Senhor Krishna por
estar naquela situação perigosa, e o Senhor onipresente soube imediatamente da
situação perigosa de Seus devotos. Então Ele apareceu imediatamente na cena e
pediu a Draupadi para Lhe dar qualquer comida que tinha guardado. Quando fez
esse pedido, Draupadi ficou muito triste porque o Supremo Senhor lhe pediu
alguma comida e ela não era capaz de suprir naquele momento. Ela disse ao Senhor
que o recipiente mágico que ganhou do deus do Sol podia suprir qualquer
quantidade de comida até que ela não tivesse comido. E naquele dia, ela já tinha
feito sua refeição, por isso estavam em perigo. Ela começou a chorar enquanto
expressava sua dificuldade para o Senhor, do jeito que só uma mulher faz numa
situação como essa. Entretanto, o Senhor pediu a Draupadi para trazer o
recipiente da comida para ver se havia alguma migalha que sobrou. Draupadi fez
isso, e o Senhor encontrou uma partícula de vegetal grudada no pote. O Senhor a
pegou e comeu imediatamente. Depois que fez isso, o Senhor pediu a Draupadi para
chamar os convidados, a comitiva de Durvasa.
Bhima foi mandado ao rio para chamá-los. Bhima disse: 'Por que demoram,
senhores? Venham que sua comida está pronta'. Mas os brâmanes, porque o Senhor
Krishna aceitou uma partícula da comida, sentiam-se alimentados suntuosamente,
quando ainda estavam na água. Eles acharam que Maharaja Yudhisthira tinha
preparado vários pratos saborosos para eles, e como não estavam com fome e não
conseguiriam comer, o rei ia ficar triste, portanto era melhor não irem lá.
Assim decidiram ir embora.
Esse incidente prova que o Senhor é o maior místico, e por isso é conhecido como
Yogeshvara. Outra instrução é que todo chefe de família deve oferecer a comida
ao Senhor, e o resultado será que todos, mesmo uma comitiva de dez mil
convidados, ficarão satisfeitos porque o Senhor estará satisfeito. Assim é o
caminho do serviço devocional".
"Somente por Sua influência que numa luta pude atrair a
admiração da Personalidade de Deus Senhor Shiva e Sua esposa, a filha do monte
Himalaia. Assim, Ele (Senhor Shiva) ficou satisfeito comigo e me concedeu Sua
própria arma. Outros semideuses também me deram suas armas, além do mais, pude
alcançar os planetas celestiais com este corpo presente e tive um assento
elevado".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Pela graça da Suprema Personalidade de Deus Sri Krishna, todos semideuses,
inclusive o Senhor Shiva, ficaram satisfeitos com Arjuna. A idéia é que quando
alguém é favorecido pelo Senhor Shiva ou qualquer outro semideus não é
necessariamente favorecido pelo Supremo Senhor Sri Krishna. Ravana era com
certeza um grande devoto do Senhor Shiva, mas não pôde ser salvo da ira da
Suprema Personalidade de Deus Senhor Ramachandra. Há muitas histórias parecidas
nos Puranas. Mas aqui vemos um exemplo onde podemos ver o Senhor Shiva ficar
satisfeito numa luta com Arjuna. Os devotos do Supremo Senhor sabem como
respeitar os semideuses, mas os devotos dos semideuses às vezes por estupidez
pensam que a Suprema Personalidade de Deus não é maior que os semideuses. Com
esse conceito, a pessoa se torna uma ofensora e no fim se depara com o mesmo
destino de Ravana e outros. As ocorrências descritas por Arjuna durante seu
relacionamento amigável com o Senhor Krishna são instrutivas para todos que
podem ser convencidos pelas lições de que se pode obter todos favores
simplesmente por satisfazer o Supremo Senhor Sri Krishna, enquanto os devotos ou
adoradores dos semideuses só alcançam benefícios parciais, que também são
perecíveis, como os próprios semideuses são.
Outro significado desse verso é que Arjuna, pela graça do Senhor Sri Krishna,
foi capaz de alcançar os planetas celestiais em seu corpo atual e foi honrado
pelo semideus celestial Indradeva, com um assento meio elevado ao seu lado.
Pode-se alcançar os planetas celestiais com atos piedosos recomendados nos
shastras na categoria das atividades lucrativas. Como o Bhagavad-gita
(9.21) afirma, quando as reações dessas atividades piedosas se esgotam, o
desfrutador se degrada novamente nos planetas terrestres. A Lua também está no
nível dos planetas celestiais, e somente pessoas que realizam virtudes, ou seja,
execução de sacrifícios, caridade e prática de austeridades severas, têm
permissão para entrar nos planetas celestiais depois que encerrar a duração da
vida neste corpo. Arjuna teve permissão para entrar nos planetas celestiais no
mesmo corpo unicamente pela graça do Senhor, senão seria impossível. As
tentativas atuais de alcance dos planetas celestiais pelos cientistas modernos
certamente serão frustradas pois esses cientistas não estão no nível de Arjuna.
Eles são seres humanos ordinários, sem nenhuma qualificação de sacrifício,
caridade ou austeridade. O corpo material é influenciado pelos três modos da
natureza material, chamados bondade, paixão e ignorância, e os sintomas de sua
influência são exibidos ao se tornarem muito luxuriosos e gananciosos. Tais
indivíduos degradados mal podem se aproximar dos sistemas planetários
superiores. Acima dos planetas celestiais, existem muitos outros planetas
também, que somente aqueles influenciados pela bondade podem alcançar. Nos
planetas celestiais e outros dentro do universo, os habitantes são todos muito
inteligentes, muito mais que os seres humanos, e todos eles são piedosos no
maior e mais elevado modo da bondade. Todos são devotos do Senhor, apesar de sua
bondade não ser imaculada, ainda assim são considerados semideuses que possuem a
máxima quantidade de boas qualidades dentro do universo material".
"Quando fiquei durante alguns dias como convidado nos planetas
celestiais, todos os semideuses celestiais, inclusive o rei Indradeva,
refugiaram-se em meus braços, que tinham as marcas do arco Gandiva, para matar o
demônio chamado Nivatakavacha. Ó rei, descendente de Ajamidha, no presente
momento, estou sem a Suprema Personalidade de Deus, por cuja influência eu era
tão poderoso".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Os semideuses celestiais são com certeza mais inteligentes, poderosos e belos,
ainda assim tiveram que pedir ajuda a Arjuna por causa de seu arco Gandiva, que
era dotado de poder pela graça do Senhor Krishna. O Senhor é onipotente e por
Sua graça, Seu devoto puro pode ter tanto poder quanto Ele desejar, e sem
limite. E quando o Senhor retira Seu poder de qualquer um, ele fica impotente
pela vontade do Senhor".
"A força militar dos Kauravas era como um oceano onde viviam muitos seres
invencíveis, por isso era insuperável. Mas por causa de Sua amizade, pude
atravessá-lo com minha quadriga. E somente por Sua graça, consegui recuperar as
vacas e também tirar à força os vários elmos dos reis que eram cravejados de
jóias, fontes de muito brilho".
"A força
militar dos Kauravas era como um oceano no qual habitavam muitas existências
invencíveis, e por isso era insuperável. Mas por causa de Sua amizade, eu,
sentado na quadriga, fui capaz de atravessá-lo. E somente por Sua graça que fui
capaz de recuperar as vacas e também coletar a força muitos elmos de reis que
eram incrustrados com jóias que eram fontes de todo o brilho".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"No lado Kaurava, havia muitos comandantes bravos como Bhisma, Drona, Kripa e
Karna, e seu poderio militar era insuperável como o oceano. Mesmo assim, pela
graça do Senhor Krishna, Arjuna sozinho, em sua quadriga, pôde atuar para
vencê-los um depois do outro sem dificuldade. Aconteceram várias trocas de
comandantes no outro lado, mas no lado dos Pandavas, Arjuna sozinho na quadriga
dirigida pelo Senhor Krishna pôde gerenciar toda a responsabilidade da grande
guerra. Do mesmo modo, quando os Pandavas viveram incógnitos no palácio de
Virata, os Kauravas fizeram um ataque contra o rei Virata e decidiram levar
embora seu grande número de vacas. Enquanto levavam as vacas embora, Arjuna
lutou contra eles incógnito e conseguiu recuperar as vacas junto com um prêmio
tirado à força, as jóias encravadas nos turbantes da classe real. Arjuna lembrou
que tudo isso foi possível pela graça do Senhor".
"Foi somente Ele quem retirou a duração de vida de todos, e quem
retirou o poder especulativo e a força do entusiasmo da grande falange militar
organizada pelos Kauravas no campo de batalha, liderados por Bhisma, Karna,
Drona, Shalya e os outros. A organização deles era perfeita e mais do que
adequada, mas Ele (Senhor Sri Krishna), fez tudo isso enquanto seguia em
frente".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A Suprema Personalidade de Deus Absoluta, Senhor Sri Krishna, expande-Se em Sua
porção plenária Paramatma no coração de todos, e assim Ele dirige todos em
relação à lembrança, esquecimento, conhecimento, ausência de inteligência e
todas atividades fisiológicas (Bg. 15.15). Por ser o Supremo Senhor, Ele
pode aumentar ou diminuir a duração de vida do ser vivo. Assim, o Supremo Senhor
conduziu a batalha de Kurukshetra de acordo com Seu próprio plano. Ele queria a
batalha para estabelecer Yudhisthira como o Imperador deste planeta, e para
facilitar essa ação transcendental, Ele matou todos que eram do partido
adversário à Sua vontade onipotente. O partido oposto era equipado com toda
força militar apoiada por grandes generais como Bhisma, Drona e Shalya, e seria
fisicamente impossível para Arjuna vencer a batalha se o Senhor não o ajudasse
com todos tipos de táticas. Essas táticas são praticadas em geral por todos
chefes de estado, mesmo na guerra moderna, mas são todas feitas materialmente
por altas espionagens, táticas militares e manobras diplomáticas. Como Arjuna
era um devoto muito querido do Senhor, o Senhor fez tudo pessoalmente sem
nenhuma ansiedade pessoal para Arjuna. Assim é o caminho do serviço devocional
ao Senhor".
"Grandes generais como Bhisma, Drona, Karna, Bhurishrava,
Susharma, Shalya, Jayadratha e Balika lançaram suas armas invencíveis contra
mim. Mas por Sua (Senhor Krishna) graça, eles não tocaram em um só cabelo da
minha cabeça. Similarmente, Prahlada Maharaja, o devoto supremo do Senhor
Nrisimhadeva, não foi ferido pelas armas dos demônios".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A história de Prahlada Maharaja, o grande devoto de Nrisimhadeva, é narrada no
Sétimo Canto do Srimad Bhagavatam. Prahlada Maharaja, uma criança de
apenas cinco anos, virou objeto de inveja de seu grande pai, Hiranyakashipu, só
porque se tornou um devoto puro do Senhor. O pai demônio usou todas suas armas
para matar seu filho, Prahlada, mas pela graça do Senhor, ele foi salvo de todos
tipos de ações perigosas de seu pai. Ele foi jogado no fogo, em óleo fervente,
do topo duma montanha, sob as patas dum elefante, e também foi envenenado. No
fim, o próprio pai pegou um cutelo para matar seu filho, quando Nrisimhadeva
apareceu e matou o pai perverso na presença do filho. Portanto, ninguém pode
matar um devoto do Senhor. Similarmente, Arjuna também foi salvo pelo Senhor,
apesar de todas armas perigosas usadas pelos seus grandes adversários como
Bhisma.
Karna: Nasceu de Kunti com o deus do Sol antes do casamento dela com Maharaja
Pandu, Karna nasceu com braceletes e brincos, sinais extraordinários dum herói
destemido. No começo, seu nome era Vasusena, quando cresceu, deu seus brincos e
braceletes naturais de presente para Indradeva, e daí em diante ficou conhecido
como Vaikartana. Depois de seu nascimento da donzela Kunti, foi jogado no
Ganges. Então foi pego por Adhiratha, e ele com sua esposa Radha o criaram como
se fosse seu próprio filho. Karna era muito caridoso, especialmente com os
brâmanes. Não havia nada que ele negasse a um brâmane. Com esse espírito
caridoso, ele deu em caridade seus braceletes e brincos naturais a Indradeva,
que ficou muito contente com ele, e retribuiu com sua grande arma chamada Shakti.
Ele foi admitido como um dos alunos de Dronacharya, e desde o início, surgiu uma
rivalidade entre ele e Arjuna. Quando viu essa rivalidade com Arjuna, Duryodhana
o aceitou como seu companheiro, o que se desenvolveu numa grande intimidade. Ele
também estava presente na grande assembléia do swayamvara de Draupadi, e
quando tentou exibir sua habilidade nessa ocasião, o irmão de Draupadi declarou
que Karna não podia participar da competição por ser filho dum shudra
carpinteiro. Apesar de ser rejeitado na competição, quando Arjuna acertou o
peixe alvo no teto com sucesso e Draupadi pôs o colar de flores em Arjuna, Karna
e os outros príncipes desapontados tentaram impedir Arjuna com violência quando
saia com Draupadi. Especialmente, Karna brigou com ele bem bravo, mas todos
foram derrotados por Arjuna. Duryodhana gostava muito de Karna por causa de sua
constante rivalidade com Arjuna, e quando assumiu o poder, nomeou Karna como rei
de Anga. Quando fracassou na sua tentativa de conquistar Draupadi, Karna
aconselhou Duryodhana a atacar o rei Drupada, pois achava que depois de
derrotá-lo, Arjuna e Draupadi podiam ser presos. Mas Dronacharya censurou essa
conspiração deles, assim desistiram da ação. Karna foi derrotado muitas vezes,
não apenas por Arjuna mas também por Bhimasena. Ele também era soberano dos
reinos da Bengala, Orissa e Madras combinados. Mais tarde, ele participou do
sacrifício Rajasuya de Maharaja Yudhisthira, e quando houve o jogo entre os
irmãos rivais, planejado por Shakuni, Karna participou do jogo, e ficou muito
contente quando Draupadi foi oferecida como aposta no jogo. Isso alimentou seu
ódio antigo. Quando Draupadi foi perdida no jogo, ele ficou muito entusiasmado
para dar a notícia, foi ele quem ordenou a Dushasana para tirar as roupas dos
Pandavas e de Draupadi. Ele pediu a Draupadi para escolher outro marido pois foi
perdida pelos Pandavas e se tornou escrava dos Kurus. Ele sempre foi inimigo dos
Pandavas, e sempre que tinha uma oportunidade, tentava reprimi-los de todas as
formas. Durante a batalha de Kurukshetra, ele previu o resultado final, e
expressou sua opinião de que Arjuna venceria a batalha porque o Senhor Krishna
era o condutor de sua quadriga. Ele sempre discordava de Bhisma, e às vezes era
tão arrogante que dizia poder acabar com os Pandavas em cinco dias, se Bhisma
não interferisse em seu plano de ação. Mas ficou muito comovido quando Bhisma
morreu. Ele matou Ghatotkacha com a arma Shakti que ganhou de Indradeva. Seu
filho, Vrishasena, foi morto por Arjuna. Ele matou o maior número de soldados
Pandavas. E no fim, houve um combate terrível com Arjuna, e somente ele foi
capaz de derrubar o elmo de Arjuna. Mas também aconteceu da roda de sua quadriga
atolar na lama do campo de batalha, quando teve que descer para tentar desatolar
a roda, Arjuna aproveitou a oportunidade para matá-lo, apesar dele pedir para
Arjuna não fazer isso.
Napta, ou Bhurishrava: Bhurishrava era filho de Somadatta, um membro da família
Kuru. Shalya era seu irmão. Tanto os irmãos quanto o pai participaram da
cerimônia swayamvara de Draupadi. Todos apreciaram o poder maravilhoso de
Arjuna por ser um devoto amigo do Senhor, portanto Bhurishrava aconselhou os
filhos de Dhritarastra a não se desentenderem ou lutarem contra eles. Todos eles
também participaram do Rajasuya yajña de Maharaja Yudhisthira. Ele
possuía um regimento akshauhini militar completo com infantaria,
cavalaria, elefantes e quadrigas, que foi totalmente usado na batalha de
Kurukshetra em benefício do partido de Duryodhana. Ele era considerado por Bhima
como um dos yutha-patis. Na batalha de Kurukshetra, ele se ocupou
especialmente no combate contra Satyaki, e matou os dez filhos de Satyaki. Mais
tarde, Arjuna cortou suas mãos, e ele foi morto finalmente por Satyaki. Quando
morreu, fundiu-se na existência de Visvadeva.
Trigarta, ou Susharma: Filho do Maharaja Vridhakshetra, era o rei de Trigarta
desha, e também estava presente na cerimônia swayamvara de Draupadi.
Era um dos aliados de Duryodhana, e aconselhou Duryodhana a atacar Matsya
desha (Darbhanga). Na ocasião do roubo das vacas em Virata nagara,
ele conseguiu capturar Maharaja Virata, mas depois Maharaja Virata foi libertado
por Bhima. Ele também lutou com muita bravura na batalha de Kurukshetra, mas foi
morto por Arjuna no fim.
Jayadratha: Outro filho de Maharaja Vridhakshetra. Ele era rei de Sindhu
desha (atual província de Sind no Paquistão, capital Karachi). Sua esposa
era Dushala. Ele também estava na cerimônia swayamvara de Draupadi, e
queria muito conquistar a mão dela, mas falhou na competição. Desde então, ele
procurava uma oportunidade de se aproximar de Draupadi. Quando foi casar em
Shalya desha, no caminho para Kamyavana, viu Draupadi novamente e ficou
muito atraído por ela. Os Pandavas e Draupadi estavam no exílio, depois que
perderam o império num jogo, e Jayadratha achou bom mandar notícias para
Draupadi de forma ilícita através de Kotishashya, um de seus assessores.
Draupadi recusou com veemência a proposta de Jayadratha, mas ele estava muito
apaixonado pela beleza de Draupadi, e tentou várias vezes. Todas as vezes foi
rejeitado por Draupadi. Tentou pegá-la à força em sua quadriga, e primeiro
Draupadi lhe deu um golpe forte, e ele caiu como uma árvore arrancada pela raiz.
Mas não desanimou e conseguiu botar Draupadi em sua quadriga à força. O
incidente foi visto por Dhaumya Muni, que condenou severamente a atitude de
Jayadratha. Ele também seguiu a quadriga, e o fato chegou a Maharaja Yudhisthira
por meio de Dhatreyika. Os Pandavas então atacaram os soldados de Jayadratha e
mataram todos, no fim, Bhima capturou Jayadratha e lhe deu uma boa surra, quase
até a morte. Cortaram seu cabelo e deixaram só cinco fios, depois foi levado
perante todos os reis e apresentado como escravo de Maharaja Yudhisthira. Ele
foi forçado a admitir que era escravo de Maharaja Yudhisthira perante toda a
classe real, assim foi trazido perante Maharaja Yudhisthira nessa condição.
Maharaja Yudhisthira era tão bom que o libertou, quando concordou em ser um
príncipe súdito de Maharaja Yudhisthira. A rainha Draupadi também desejou
libertá-lo. Depois desse incidente, permitiram que ele voltasse para seu país.
Por ser tão insultado, foi para Gangatri no Himalaia e praticou severas
penitências para agradar o Senhor Shiva. Então pediu a bênção de derrotar todos
os Pandavas, pelo menos um de cada vez. Quando a batalha de Kurukshetra começou,
ficou no lado de Duryodhana. Nos primeiros dias de batalha, combateu Maharaja
Drupada, depois Virata e Abhimanyu em seguida. Abhimanyu ia ser morto, cercado
sem piedade por sete grandes generais, os Pandavas vieram ajudá-lo, mas
Jayadratha os repeliu com muita habilidade, pela graça do Senhor Shiva. Nesse
momento, Arjuna jurou matá-lo. Quando soube disso, Jayadratha quis deixar o
campo de batalha e pediu permissão aos Kauravas para esse ato covarde. Mas não
teve a permissão. Pelo contrário, foi obrigado a lutar com Arjuna, e durante o
combate, o Senhor Krishna lembrou Arjuna que a bênção de Shiva para Jayadratha
era que quem fizesse sua cabeça cair no chão morreria imediatamente. Ele
aconselhou Arjuna a atirar a cabeça de Jayadratha direto no colo de seu pai, que
praticava penitências no lugar sagrado Samanta-panchaka. Arjuna fez assim. O pai
de Jayadratha ficou surpreso de ver a cabeça decapitada em seu colo, e a jogou
no chão de imediato. O pai morreu instantaneamente, com sua cabeça estourada em
vários pedaços".
"Foi somente por sua misericórdia que meus inimigos não me
mataram quando desci da minha quadriga para dar água a meus cavalos sedentos. E
foi por minha falta de consideração por meu Senhor que ousei ocupá-Lo como
condutor da minha quadriga, Ele que é adorado e servido pelas melhores pessoas
que alcançam a salvação".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"O Supremo Senhor, a Suprema Personalidade de Deus Sri Krishna, é o objeto de
adoração tanto dos impersonalistas quando dos devotos do Senhor. Os
impersonalistas adoram Seu brilho radiante que emana de Seu corpo transcendental
de forma eterna, bem-aventurado e pleno de conhecimento, e os devotos O adoram
como a Suprema Personalidade de Deus. Quem está até abaixo dos impersonalistas O
considera como uma das grandes personalidades históricas. O Senhor entretanto
descende para atrair todos com Seus passatempos transcendentais específicos,
assim Ele faz o papel do mais perfeito mestre, amigo, filho e amante. Sua
relação transcendental com Arjuna é de amizade, portanto o Senhor atuou nesse
papel perfeitamente, do mesmo modo como fez com Seus pais, amantes e esposas.
Quando Ele atua nessa relação transcendental perfeita, o devoto esquece, pela
ação da potência interna do Senhor, que seu amigo ou filho é a Suprema
Personalidade de Deus, apesar de algumas vezes o devoto ficar confuso com as
ações do Senhor. Depois da partida do Senhor, Arjuna tinha consciência de seu
grande amigo, mas não houve nenhum erro de Arjuna, nem qualquer má consideração
do Senhor. As pessoas inteligentes sentem atração pela atuação transcendental do
Senhor com um devoto puro e imaculado como Arjuna.
A escassez de água na guerra é um fato bem conhecido. A água é rara tanto para
os amimais quanto para as pessoas, o trabalho árduo no campo de batalha requer
água constantemente para saciar a sede. Principalmente soldados e generais
feridos sentem muita sede na hora da morte, e às vezes acontece da pessoa morrer
simplesmente por falta de água. Mas essa escassez de água foi resolvida na
batalha de Kurukshetra com a perfuração do solo. Pela graça de Deus, a água pode
ser facilmente obtida em qualquer lugar por meio da perfuração do solo. O
sistema moderno funciona com o mesmo princípio da perfuração do solo, mas os
engenheiros modernos ainda são incapazes de perfurar imediatamente onde é
necessário. Vemos na história entretanto que na época antiga dos Pandavas,
grandes generais como Arjuna podiam suprir água imediatamente até para os
cavalos, o que falar dos soldados, ao trazer a água embaixo do chão duro
simplesmente por perfurar o solo com uma flecha afiada, um método ainda
desconhecido para os cientistas modernos".
"Ó rei! Sua fala bem humorada e franca era muito agradável e
belamente decorada com sorrisos. Ele me chamava: "Ó filho de Pritha, ó amigo, ó
filho da dinastia Kuru", agora lembro desse grande afeto, e fico desnorteado".
"Na maior parte do tempo, nós dois costumávamos viver juntos,
dormíamos, descansávamos e viajávamos juntos. E na hora de aconselhar nos atos
de cavalheirismo, eu costumava repreendê-Lo e dizia: "Meu amigo, Você é muito
sincero". Mesmo nesses momentos quando Seu valor era minimizado, Ele, que é a
Alma Suprema, costumava tolerar todas minhas expressões, e me perdoava
exatamente como um amigo de verdade perdoa seu amigo de verdade, ou um pai
perdoa seu filho".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A Suprema Personalidade de Deus é plenamente perfeita, por isso Seus
passatempos transcendentais com Seus devotos puros não carecem de nada em nenhum
aspecto, tanto com amigo, filho ou amante. O Senhor aprecia as repreensões dos
amigos, pais ou noivas muito mais do que os hinos Védicos que Lhe são oferecidos
por grandes sábios e religiosos eruditos da forma oficial".
"Ó Imperador, agora estou separado do meu amigo e mais querido
benquerente, a Suprema Personalidade de Deus, por isso meu coração parece estar
completamente vazio. Na Sua ausência, fui derrotado por alguns pastores de vaca
infiéis quando guardava os corpos de todas esposas de Krishna".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"O ponto importante desse verso é como foi possível Arjuna ser derrotado por um
bando de pastores ordinários e como tais pastores mundanos puderam tocar os
corpos das esposas do Senhor Krishna, que estavam sob a proteção de Arjuna.
Srila Visvanatha Chakravarti Thakura justificou a contradição com uma pesquisa
no Vishnu Purana e Brahma Purana. Esses Puranas afirmam que
certa vez, as belas habitantes dos planetas celestiais agradaram Astavakra Muni
com seu serviço dedicado e foram abençoadas pelo muni para terem o
Supremo Senhor como seu esposo. Astavakra Muni era curvado em oito juntas do
corpo, por isso andava de forma curvada peculiar. As filhas dos semideuses não
conseguiram evitar o riso ao verem os movimentos do muni, por isso ele
ficou irado e as amaldiçoou para serem raptadas por bandidos, mesmo com o Senhor
como seu esposo. Mais tarde, as meninas agradaram o muni com preces
novamente, e ele as abençoou que recuperariam seu esposo depois do rapto pelos
bandidos. Assim, para cumprir a palavra do grande muni, o Senhor em
pessoa raptou Suas esposas da proteção de Arjuna, senão elas teriam desaparecido
de cena imediatamente ao serem tocadas pelos bandidos. Além do mais, algumas
gopis que oraram para se tornarem esposas do Senhor, voltaram para suas
posições respectivas depois que seu desejo foi satisfeito. Após a partida do
Senhor Krishna, Ele queria toda Sua companhia de volta ao Supremo, e todos foram
chamados de volta em diferentes situações".
"Eu tinha o mesmo arco Gandiva, as mesmas flechas, a mesma
quadriga puxada pelos mesmos cavalos, e as usei como o mesmo Arjuna que todos os
reis prestavam suas homenagens. Mas na ausência do Senhor Krishna, tudo isso,
num único momento, tornou-se inútil e nulo. Do mesmo modo como oferecer manteiga
clarificada para as cinzas, acumular dinheiro com uma varinha mágica ou plantar
sementes na terra estéril".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Como já discutimos várias vezes, não se deve ficar orgulhoso por causa de
plumas emprestadas. Todas energias e potências são derivadas da fonte suprema, o
Senhor Krishna, que atuam no tempo que Ele deseja e cessam sua função tão logo
que Ele retire. Toda energia elétrica vem da usina de força, no momento que a
usina pára de funcionar, as lâmpadas não têm mais utilidade. Apenas em um
instante, essas energias podem ser geradas ou retiradas pela vontade suprema do
Senhor. A civilização materialista sem as bênçãos do Senhor não passa de
brincadeira infantil. Enquanto os pais permitem que a criança brinque, está tudo
bem. Logo que os pais impedem, a criança tem que parar. A civilização humana
portanto deve se encaixar nas bênçãos supremas do Senhor, pois sem as bênçãos do
Supremo Senhor, todo avanço da civilização humana é como a decoração num corpo
morto. É dito que a civilização morta e suas atividades são como a manteiga
clarificada nas cinzas, ou o acúmulo de dinheiro como uma varinha mágica ou a
plantação de sementes na terra estéril".
"Ó rei, você me perguntou sobre nossos amigos e parentes da
cidade de Dwaraka, informo que todos foram amaldiçoados por brâmanes, e como
resultado, ficaram embriagados com vinho feito com arroz fermentado e lutaram
entre si com lanças, sem reconhecer um ao outro. Agora, só quatro ou cinco deles
que não morreram e se foram".
"Na verdade, tudo isso aconteceu pela vontade suprema do Senhor,
a Suprema Personalidade de Deus. Às vezes, pessoas matam umas às outras, e
outras, protegem umas às outras".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Segundo os antropólogos, existe a lei natural da luta pela existência e
sobrevivência dos mais fortes. Mas não sabem que por trás da lei da natureza
está a direção suprema da Suprema Personalidade de Deus. O Bhagavad-gita
confirma que a lei da natureza se realiza sob a direção do Senhor. Portanto,
deve-se saber que quando há paz no mundo, é devido à boa vontade do Senhor. E
sempre que há revolta no mundo também é devido à vontade suprema do Senhor. Nem
uma folha de grama se move sem a vontade do Senhor. Assim, quando há
desobediência das regras estabelecidas pelo Senhor, acontece a guerra entre
pessoas e nações. A forma mais certa do caminho da paz é então a adaptação de
tudo às regras estabelecidas pelo Senhor. A regra estabelecida é que tudo que
fazemos, tudo que comemos, todo sacrifício que realizamos ou tudo que damos em
caridade deve ser feito para a satisfação plena do Senhor. Ninguém deve fazer
nada, comer nada, sacrificar nada ou dar qualquer caridade contra a vontade do
Senhor. A prudência é a melhor parte do valor, a pessoa tem que aprender a
discriminar entre as ações que podem agradar o Senhor e as que podem não
agradá-Lo. Portanto, uma ação é julgada por agradar ou desagradar o Senhor. Essa
atenção se chama yogah karmasu kausalam, ou ações realizadas que estão
ligadas ao Supremo Senhor. Assim é a arte de fazer algo de forma perfeita".
"Ó rei, assim como no oceano os seres aquáticos maiores e mais
fortes engolem os menores e mais fracos, a Suprema Personalidade de Deus, para
aliviar o peso da Terra, fez com que os mais fortes da dinastia Yadu matassem os
mais fracos, e os maiores da dinastia Yadu matassem os menores".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A luta pela existência e sobrevivência dos mais fortes no mundo material é lei
porque no mundo material existe a desigualdade entre os seres condicionados,
pois todos querem dominar os recursos materiais. Essa mesma mentalidade de
domínio da natureza material é a causa básica da vida condicionada. E para
facilitar a vida de tais falsos senhores, a energia ilusória do Senhor criou a
desigualdade entre os seres vivos condicionados por criar o mais forte e o mais
fraco em todas espécies de vida. A mentalidade de domínio sobre a natureza
material e a criação criou uma desigualdade natural e em conseqüência, a lei de
luta pela existência. No mundo espiritual não existe tal desigualdade, nem
existe tal luta pela existência. No mundo espiritual, não há luta pela
existência pois todos que estão lá vivem eternamente. Não há desigualdade pois
todos querem prestar serviço ao Supremo Senhor, e ninguém quer imitar o Senhor
para se tornar o beneficiário. O Senhor, criador de tudo, inclusive dos seres
vivos, é o verdadeiro proprietário e desfrutador de tudo que existe. Mas no
mundo material, pelo encanto de maya, ou ilusão, há o esquecimento dessa
relação eterna com a Suprema Personalidade de Deus, por isso o ser vivo fica
condicionado à lei da luta pela existência e sobrevivência do mais forte".
"Agora, sinto atração pelas instruções que a Suprema
Personalidade de Deus (Govinda) me transmitiu porque estão repletas de
ensinamentos para o alívio do ardor do coração em todas as circunstâncias de
tempo e espaço".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Aqui, Arjuna se refere às instruções do Bhagavad-gita, que foram
transmitidas a ele pelo Senhor no campo de batalha em Kurukshetra. O Senhor
deixou os ensinamentos do Bhagavad-gita não somente para o benefício de
Arjuna, mas também para todo tempo em todo lugar. O Bhagavad-gita, falado
pela Suprema Personalidade de Deus, é a essência de toda sabedoria Védica. Foi
muito bem apresentado pelo Senhor em pessoa para todos que têm pouco tempo para
atravessarem a vastidão da literatura Védica como os Upanishads,
Puranas e Vedanta-sutras. Foi colocado dentro do estudo do grande
épico Mahabharata, que foi preparado especialmente para as classes de pessoas
menos inteligentes como mulheres, trabalhadores e os descendentes indignos dos
brâmanes, kshatriyas e setores elevados dos vaishyas. O problema
que surgiu no coração de Arjuna no campo de batalha em Kurukshetra foi
solucionado com os ensinamentos do Bhagavad-gita. Novamente, depois da
partida do Senhor da visão das pessoas mundanas, quando Arjuna se deparou com a
aniquilação de seu poder e proeminência adquiridos, quis lembrar de novo os
grandes ensinamentos do Bhagavad-gita apenas para ensinar a todos aflitos
que o Bhagavad-gita pode ser consultado em todos momentos críticos, não
apenas para o consolo de todas agonias mentais, mas também como escapar dos
grandes embaraços que podem complicar a pessoa numa hora crítica.
O Senhor misericordioso deixou Seus grandes ensinamentos do Bhagavad-gita
para que a pessoa tenha as instruções do Senhor mesmo sem Ele estar visível para
os olhos materiais. Os sentidos materiais não podem ter nenhuma estimativa sobre
o Supremo Senhor, mas pelo Seu poder inconcebível, o Senhor pode encarnar
pessoalmente para a percepção sensorial dos seres condicionados de forma
adequada com a agência da matéria, que também é outra forma da energia manifesta
do Senhor. Portanto, o Bhagavad-gita, ou qualquer outra representação
sonora autêntica do Senhor, também é uma encarnação do Senhor. Qualquer pessoa
pode obter o mesmo benefício do Bhagavad-gita que Arjuna obteve na
presença pessoal do Senhor.
O ser humano sincero que deseja se liberar das garras da existência material
pode aproveitar a vantagem do Bhagavad-gita com muita facilidade, pois
com essa intenção, o Senhor instruiu Arjuna como se Arjuna precisasse disso. O
Bhagavad-gita explica os cinco fatores mais importantes do conhecimento,
(1) o Supremo Senhor, (2) o ser vivo, (3) natureza, (4) tempo e espaço, (5) o
processo da atividade. Desses, o Supremo Senhor e o ser vivo são iguais em
qualidade. A diferença entre os dois é analisada como a diferença entre o todo e
a parte e parcela. Natureza é a matéria inerte que exibe a interação dos três
modos diferentes, e tempo eterno e espaço ilimitado são considerados além da
existência da natureza material. Atividades dos seres vivos são diferentes
variedades de atitudes que prendem ou liberam o ser vivo dentro ou fora da
natureza material. Todos esses assuntos são discutidos concisamente no
Bhagavad-gita, e posteriormente, os assuntos são bem elaborados no Srimad
Bhagavatam para a melhor compreensão. Desses cinco assuntos, o Supremo
Senhor, o ser vivo, natureza e tempo e espaço são eternos, mas o ser vivo,
natureza e tempo estão sob a direção do Supremo Senhor, que é absoluto e
plenamente independente de qualquer controle. O Supremo Senhor é o supremo
controlador. A atividade material do ser vivo é sem início, mas pode ser
retificada pela transferência à realidade espiritual. Assim pode cessar suas
reações materiais qualitativas. Tanto o Senhor como o ser vivo são cognitivos, e
ambos têm o senso de identificação, por serem conscientes como uma força viva.
Mas o ser vivo sob o condicionamento da natureza material, chamada
mahat-tattva, se identifica de forma errada como diferente do Senhor. Todo o
esquema da sabedoria Védica é direcionado para a erradicação desse conceito
errado e assim liberar o ser vivo da ilusão da identificação material. Quando
essa ilusão é erradicada pelo conhecimento e renúncia, os seres vivos viram
atores e desfrutadores responsáveis também. O senso de desfrute com o Senhor é
real, mas esse senso no ser vivo é apenas um tipo de desejo ansioso. Essa
diferença de consciência é a distinção entre as duas identidades, o Senhor e o
ser vivo. De outra forma, não há diferença entre o Senhor e o ser vivo.
Portanto, o ser vivo é eternamente uno e diferente simultaneamente. Toda a
instrução do Bhagavad-gita se baseia nesse princípio.
O Bhagavad-gita descreve tanto o Senhor como o ser vivo como sanatana,
ou eterno, e o reino do Senhor, muito além do céu material, também é descrito
como sanatana. O ser vivo é convidado a viver na existência sanatana
do Senhor, e o processo que pode ajudar o ser vivo a se aproximar do reino do
Senhor, onde se exibe a atividade liberada da alma, é chamado sanatana-dharma.
Porém, ninguém pode alcançar a morada eterna do Senhor sem estar livre do
conceito errado da identificação material, e o Bhagavad-gita nos dá a
iluminação para alcançar esse estágio de perfeição. O processo de se liberar do
conceito errado da identificação material se chama, em diferentes estágios,
atividade lucrativa, conhecimento empírico e serviço devocional, até a
realização transcendental. Tal realização transcendental só é possível com a
dedicação de todos esses itens na relação com o Senhor. Os deveres prescritos do
ser humano, como indicado nos Vedas, podem purificar gradualmente a mente
pecaminosa da alma condicionada e elevá-la ao estágio do conhecimento. O estágio
purificado da aquisição de conhecimento se torna a base do serviço devocional ao
Senhor. Enquanto a pessoa está ocupada na pesquisa para a solução dos problemas
da vida, seu conhecimento se chama jñana, ou conhecimento purificado, mas
quando realiza a solução verdadeira da vida, a pessoa fica situada no serviço
devocional ao Senhor. O Bhagavad-gita começa com os problemas da vida por
diferenciar a alma dos elementos da matéria e provar com toda razão e argumento
que a alma é indestrutível em todas circunstâncias, e que a cobertura externa da
matéria, o corpo e a mente, muda para outro termo de existência material cheio
de misérias. Por isso, o Bhagavad-gita se destina ao extermínio de todos
diferentes tipos de miséria, e Arjuna se abrigou em Seu grande conhecimento, que
foi dado a ele durante a batalha de Kurukshetra".
"Suta Goswami disse: Assim absorto profundamente em pensar nas
instruções do Senhor, que foram dadas na grande intimidade da amizade, e em
pensar em Seus pés de lótus, a mente de Arjuna se acalmou e se livrou de toda
contaminação material".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Como o Senhor é absoluto, a meditação profunda Nele é tão boa quanto o transe
de yoga. O Senhor não é diferente de Seu nome, forma, qualidade,
passatempos, companhia e ações específicas. Arjuna começou a pensar nas
instruções do Senhor para ele no campo de batalha em Kurukshetra. Apenas essas
instruções começaram a eliminar as manchas de contaminação material na mente de
Arjuna. O Senhor é como o Sol, o aparecimento do Sol dissipa a escuridão de
imediato, ou ignorância, e o aparecimento do Senhor dentro da mente do devoto
pode expulsar os efeitos materiais miseráveis imediatamente. Por isso, o Senhor
Chaitanya recomendou o cantar constante do nome do Senhor para a proteção de
toda contaminação do mundo material. O sentimento de separação do Senhor é com
certeza muito doloroso para o devoto, mas por que está em conexão com o Senhor,
há um efeito transcendental específico que acalma o coração. Sentimentos de
separação também são fontes de bem-aventurança transcendental, e nunca são
comparados aos sentimentos de separação material.
Desejos materiais na mente são o lixo da contaminação material.
Por causa dessa contaminação, o ser vivo se depara com tantas coisas compatíveis
e incompatíveis que desencorajam a própria existência da identidade espiritual.
A alma condicionada fica presa nascimento após nascimento com tantos elementos
agradáveis e desagradáveis, que são todos falsos e temporários. Eles se acumulam
devido às nossas reações a desejos materiais, mas quando entramos em contato com
o Senhor transcendental em Suas diversas energias por meio do serviço devocional,
as formas nuas de todos desejos materiais se manifestam, e a inteligência do ser
vivo se acalma em sua cor verdadeira. Logo que Arjuna voltou sua atenção às
instruções do Senhor, como descritas no Bhagavad-gita, a cor verdadeira
de sua associação eterna com o Senhor se manifestou, assim ele se sentiu livre
de todas contaminações materiais".
"Por causa dos passatempos e atividades do Senhor e por causa de
Sua ausência, pareceu que Arjuna esqueceu das instruções deixadas pela Suprema
Personalidade de Deus. Mas na verdade, não foi esse o caso, e ele se tornou
novamente o senhor de seus sentidos".
Iluminação de Srila Prabhupada:
A alma condicionada fica presa em suas atividades lucrativas pela força do tempo
eterno. Mas o Supremo Senhor, quando encarna na Terra, não é influenciado por
kala, ou o conceito material de passado, presente e futuro. As atividades do
Senhor são eternas, e são manifestações de Sua atma-maya, ou potência
interna. Todos passatempos ou atividades do Senhor são de natureza espiritual,
mas para o leigo, parecem estar no mesmo nível das atividades materiais. Assim,
parecia que Arjuna e o Senhor estavam empenhados na batalha de Kurukshetra como
o partido oposto também estava empenhado, mas na realidade, o Senhor executou
Sua missão da encarnação e associação com Seu amigo eterno Arjuna. Por isso,
tais atividades materiais aparentes de Arjuna não o tiraram de sua posição
transcendental, pelo contrário, reviveram sua consciência sobre os cantos do
Senhor, como Ele cantou pessoalmente. Esse restabelecimento da consciência é
assegurado pelo Senhor no Bhagavad-gita (18.65):
Deve-se pensar no Senhor sempre, a mente nunca deve esquecê-Lo.
Quem vive dessa forma se torna sem dúvida abençoado com as graças do Senhor por
alcançar o abrigo de Seus pés de lótus. Não há nenhuma dúvida quanto a essa
verdade absoluta. Porque Arjuna é Seu amigo confidencial, o segredo foi revelado
a ele.
Arjuna não queria lutar contra seus parentes, mas lutou pela
missão do Senhor. Ele estava sempre ocupado exclusivamente na realização da
missão do Senhor, por isso que depois do desaparecimento do Senhor ele
permaneceu na mesma posição transcendental, mesmo se pareceu que ele esqueceu
todas instruções do Bhagavad-gita. Portanto, deve-se ajustar as
atividades da vida no compasso da missão do Senhor, assim é certo que a pessoa
voltará para o Lar, de volta ao Supremo. Essa é a perfeição mais elevada da
vida".
"Como possuía qualidades espirituais, as dúvidas da dualidade
foram erradicadas plenamente. Assim ele se livrou dos três modos da natureza
material e se situou na transcendência. Não havia mais chance dele se enredar em
nascimento e morte, pois estava livre da forma material".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Dúvidas da dualidade começam com o conceito errado do corpo material, aceito
como o eu por pessoas menos inteligentes. A parte mais tola de nossa ignorância
é nossa identificação deste corpo material com o eu. Tudo em relação ao corpo é
aceito de forma ignorante como nossa propriedade. Dúvidas devido ao conceito
errado de "eu" e "meu", em outras palavras, "meu corpo",
"meus parentes", "minha
propriedade", "minha esposa", "meus filhos", "minha riqueza", "meu país", "minha
comunidade", e centenas de milhares de contemplações ilusórias similares, causam
a confusão da alma condicionada. Quando a pessoa assimila as instruções do
Bhagavad-gita, é certo que ficará livre dessa confusão porque o verdadeiro
conhecimento é saber que a Suprema Personalidade de Deus, Vasudeva, Senhor
Krishna, é tudo, inclusive o próprio eu. Tudo é uma manifestação de Sua potência
como parte e parcela. A potência e o potente não são diferentes, assim o
conceito de dualidade é mitigado imediatamente com a obtenção do conhecimento
perfeito. Assim que Arjuna aceitou as instruções do Bhagavad-gita,
especialista como era, pôde erradicar de imediato o conceito material sobre o
Senhor Krishna, seu amigo eterno. Ele pôde realizar que o Senhor ainda estava
presente perante ele por meio de Suas instruções, por Sua forma, por Seus
passatempos, por Suas qualidades e tudo mais em relação a Ele. Ele pôde realizar
que o Senhor Krishna, seu amigo, ainda estava presente perante ele por Sua
presença transcendental nas diferentes energias não duais, e não havia
necessidade de obter a associação do Senhor por outra troca de corpo sob a
influência de tempo e espaço. Com a obtenção do conhecimento absoluto, a pessoa
pode estar na companhia do Senhor constantemente, mesmo na vida presente,
simplesmente por ouvir, cantar, lembrar e adorar o Supremo Senhor. A pessoa pode
vê-Lo, pode sentir Sua presença mesmo na vida presente simplesmente por entender
o Senhor adwaya-jñana, ou Senhor Absoluto, pelo processo do serviço
devocional, que começa com ouvir sobre Ele. O Senhor Chaitanya afirma que
simplesmente por cantar o Santo Nome do Senhor, a pessoa pode lavar de imediato
a poeira do espelho da consciência pura, e logo que a poeira é removida, a
pessoa se livra imediatamente de todos condicionamentos materiais. Livrar-se dos
condicionamentos materiais significa liberar a alma. Portanto, assim que a
pessoa se situa no conhecimento absoluto, seu conceito material é removido, ou
ela emerge do conceito falso da vida. Assim a função da alma pura se revive na
realização espiritual. Essa realização prática do ser vivo se torna possível por
ele ficar livre da reação dos três modos da natureza material, a saber, bondade,
paixão e ignorância. Pela graça do Senhor, um devoto puro se eleva de imediato
ao local do Absoluto, e não há mais chance do devoto se enredar materialmente
novamente na vida condicionada. A pessoa não é capaz de sentir a presença do
Senhor em todas circunstâncias até que seja dotada com a visão transcendental
necessária que só é possível pelo serviço devocional prescrito nas escrituras
reveladas. Arjuna alcançou esse estágio muito antes do campo de batalha em
Kurukshetra, e quando pareceu que sentiu a falta do Senhor, ele se abrigou de
imediato nas instruções do Bhagavad-gita, assim foi colocado novamente em
sua posição original. Essa é a posição vishoka, ou o estágio de estar
livre de todo pesar e ansiedades".
"Depois de ouvir sobre o retorno do Senhor Krishna para Seu
reino, e depois de entender o fim da manifestação terrestre da dinastia Yadu,
Maharaja Yudhisthira decidiu ir de volta ao Lar, de volta ao Supremo".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Maharaja Yudhisthira também voltou sua atenção às instruções do
Bhagavad-gita depois de ouvir sobre a partida do Senhor da visão das pessoas
terrestres. Ele começou a deliberar sobre o modo do aparecimento e partida do
Senhor. A missão do aparecimento e desaparecimento do Senhor no universo mortal
depende plenamente de Sua vontade suprema. Ele não é forçado a aparecer ou
desaparecer por nenhuma energia superior, como os seres vivos aparecem e
desaparecem, forçados pelas leis da natureza. Sempre que o Senhor quiser, pode
aparecer de qualquer lugar em qualquer lugar sem perturbar Seu aparecimento e
desaparecimento em qualquer outro lugar. Ele é como o Sol. O Sol aparece e
desaparece por sua própria conta em qualquer lugar sem perturbar sua presença em
outros locais. O Sol aparece de manhã na Índia sem desaparecer do hemisfério
ocidental. O Sol está presente em todo e qualquer lugar do sistema solar, mas
também parece que num lugar específico, o Sol aparece de manhã e também
desaparece num determinado horário à noite. Mesmo a limitação de tempo para o
Sol não tem significância, o que falar então sobre o Supremo Senhor que é o
criador e controlador do Sol. Portanto, o Bhagavad-gita afirma que
qualquer pessoa que entende o aparecimento e desaparecimento transcendentais do
Senhor por meio de Sua energia inconcebível se torna liberada das leis de
nascimento e morte e é colocada no céu espiritual eterno onde os planetas
Vaikuntha estão. Lá, tais pessoas liberadas podem viver eternamente sem as dores
de nascimento, morte, velhice e doença. O Senhor e aqueles que estão eternamente
dedicados ao serviço amoroso transcendental no céu espiritual são eternamente
jovens pois lá não existe velhice ou doença e não existe morte. Como não existe
morte, não existe nascimento. Portanto, a conclusão é que simplesmente por
entender o aparecimento e o desaparecimento do Senhor realmente, a pessoa pode
alcançar o estágio perfeito da vida eterna. Por isso, Maharaja Yudhisthira
também começou a considerar sua ida de volta ao Supremo. O Senhor aparece na
Terra ou qualquer outro planeta mortal junto com Seus companheiros que vivem com
Ele eternamente, e os membros da dinastia Yadu que estavam dedicados em ajudarem
os passatempos do Senhor não são outros senão Seus companheiros eternos, e assim
também, Maharaja Yudhisthira e seus irmãos, sua mãe, e os demais. Como o
aparecimento e o desaparecimento do Senhor e Seus companheiros eternos são
transcendentais, não se deve ficar confuso sobre os aspectos externos desse
aparecimento e desaparecimento".
"Kunti, depois de ouvir Arjuna falar sobre o fim da dinastia
Yadu e o desaparecimento do Senhor Krishna, dedicou-se ao serviço devocional à
Suprema Personalidade de Deus transcendental com atenção plena e assim obteve
alívio do curso da existência material".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"O pôr-do-sol não significa o fim do Sol. Significa que o Sol está fora de nossa
visão. Similarmente, o fim da missão do Senhor num planeta ou universo
específico significa apenas que Ele está fora de nossa visão. O fim da dinastia
Yadu também não significa que foi aniquilada. Ela desapareceu, junto com o
Senhor, de nossa visão. Maharaja Yudhisthira decidiu se preparar para ir de
volta ao Supremo, e Kunti também decidiu, assim se dedicou plenamente ao serviço
devocional transcendental ao Senhor que garante o passaporte para ir de volta ao
Supremo depois de deixar o corpo material presente. O início do serviço
devocional ao Senhor é o começo da espiritualização do corpo presente, deste
modo o devoto puro do Senhor perde todo contato material no corpo presente. O
reino do Senhor não é um mito, como os descrentes ou pessoas ignorantes pensam,
porém ninguém pode chegar lá por meio de recursos materiais como um "sputinik"
ou cápsula espacial. Contudo, a pessoa pode chegar lá com certeza depois de
deixar o corpo material presente, por isso tem que se preparar para voltar ao
Supremo com a prática do serviço devocional. Ele garante o passaporte para ir de
volta ao Supremo, e Kunti o adotou".
"O supremo não nascido, Senhor Sri Krishna, fez com que os
membros da dinastia Yadu abandonassem seus corpos, e assim Ele aliviou o peso
sobre o mundo. Essa ação foi como tirar um espinho com outro espinho, apesar de
ambos serem iguais para o controlador".
Iluminação de Srila Prabhupada:
Srila Visvanatha Chakravarti Thakura sugere que os rishis como Shaunaka e
outros que ouviam o Srimad Bhagavatam de Suta Goswami em Naimisharanya
não ficaram felizes quando ouviram que os Yadus morreram por causa da loucura
causada pela embriaguez. Para aliviá-los da agonia mental, Suta Goswami
assegurou que o Senhor causou o abandono do corpo dos membros da dinastia Yadu e
assim tirassem o fardo pesado do mundo. O Senhor e Seus companheiros eternos
apareceram na Terra para ajudarem os semideuses administrativos a erradicarem a
carga pesada do mundo. Por isso, Ele chamou alguns semideuses de confiança para
aparecerem na família Yadu e servi-Lo em Sua grande missão. Depois que a missão
foi cumprida, os semideuses, pela vontade do Senhor, abandonaram seus corpos
físicos por lutarem entre si na loucura da embriaguez. Os semideuses estão
acostumados a tomarem a bebida soma-rasa, por isso que beber vinho, ou
embriaguez, não é desconhecido para eles. Às vezes, eles entram em situações
difíceis por estarem embriagados. Certa vez, os filhos de Kuvera foram vítimas
da ira de Narada por estarem embriagados, mas depois recuperaram suas formas
originais pela graça do Senhor Sri Krishna. Encontraremos essa história no
Décimo Canto. Para o Supremo Senhor, tanto os asuras quanto os semideuses
são iguais, mas os semideuses são obedientes ao Senhor, enquanto os asuras
não. Deste modo, o exemplo de usar um espinho para retirar outro espinho é bem
adequado. Um espinho, que penetra na perna do Senhor, com certeza perturba o
Senhor, e o outro espinho, que retira os elementos que perturbam, com certeza
prestam serviço ao Senhor. Desta forma, apesar de todo ser vivo ser parte e
parcela do Senhor, aquele que perturba o Senhor se chama asura, e aquele
que é um servidor voluntário do Senhor se chama devata, ou semideus. No
mundo material, os devatas e os asuras sempre brigam, e os
devatas são sempre salvos das mãos dos asuras pelo Senhor. Ambos
estão sob o controle do Senhor. O mundo está repleto dos dois tipos de seres
vivos, e a missão do Senhor é sempre proteger os devatas e destruir os
asuras, sempre que há essa necessidade no mundo, e para fazer o bem para
ambos".
"O Supremo Senhor abandonou o corpo que manifestou para diminuir
a carga pesada da Terra. Do mesmo modo como um mágico, Ele abandonou um corpo
para aceitar outros diferentes, como a encarnação peixe e outras".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A Suprema Personalidade de Deus não é impessoal nem sem forma, mas Seu corpo
não é diferente Dele, e por isso Ele é conhecido como a personificação da
eternidade, conhecimento e bem-aventurança. O Brihad-vaishnava Tantra
menciona claramente que quem considera a forma do Senhor Krishna como feita de
energia material deve ser execrado de qualquer jeito. Se acontecer de ver a face
de tal infiel, a pessoa deve se purificar por pular no rio com roupa e tudo. O
Senhor é descrito como amrita, ou imortal, porque Ele não tem corpo
material. Nessas circunstâncias, a morte do Senhor ou Ele deixar Seu corpo é
como a prestidigitação dum mágico. O mágico exibe por meio de suas mágicas que
seu corpo foi cortado em pedaços, queimado até as cinzas ou ficou inconsciente
pela influência hipnótica, mas são exibições falsas apenas. Na realidade, o
mágico não é queimado em cinzas nem cortado em pedaços, nem morre ou fica
inconsciente em qualquer estágio de sua demonstração mágica. Similarmente, o
Senhor possui Suas formas eternas com variedade ilimitada, as quais foram
exibidas neste universo material como a encarnação peixe é uma delas. Como
existem inumeráveis universos, em algum outro lugar, a encarnação peixe
manifesta Seus passatempos sem cessar. Este verso usa a palavra específica
dhatte (aceitado eternamente) e não a palavra dhitva (aceitado para a
ocasião). A idéia é que o Senhor não criou a encarnação peixe, Ele tem essa
forma eternamente, e o aparecimento e desaparecimento dessa encarnação serve a
um propósito específico. O Senhor afirma no Bhagavad-gita (7.24-25): "Os
impersonalistas pensam que Eu não tenho forma, que sou sem forma, mas no
presente, aceitei uma forma que serve a um propósito, e estou manifesto agora.
Mas tais especuladores são na verdade sem inteligência aguçada. Apesar de serem
bem versados nas literaturas Védicas, são praticamente ignorantes sobre Minhas
energias inconcebíveis e Minhas formas eternas de personalidade. O motivo é que
Eu reservo o poder de não ser exposto para os não devotos pela Minha cortina
mística. Deste modo, os tolos menos inteligentes não têm ciência sobre Minha
forma eterna, que nunca é aniquilada e é não nascida". O Padma Purana
afirma que quem tem inveja do Senhor e está sempre com raiva do Senhor não tem
capacidade para conhecer a forma verdadeira e eterna do Senhor. O Srimad
Bhagavatam também afirma que o Senhor parece como um raio para aqueles que
são adversários. Shishupala, na hora que foi morto pelo Senhor, não pôde vê-Lo
como Krishna, ofuscado pelo brilho do brahmajyoti. Logo, a manifestação
temporária do Senhor como um relâmpago para os adversários designados por Kamsa,
ou a aparência brilhante do Senhor perante Shishupala, foi abandonada pelo
Senhor, mas o Senhor como um mágico existe eternamente e nunca é aniquilado em
nenhuma circunstância. Tais formas são mostradas temporariamente para os
asuras apenas, e quando essas exibições são retiradas, os asuras
pensam que o Senhor não existe mais, da mesma forma que a platéia tola pensa que
o mágico foi queimado em cinzas ou cortado em pedaços. A conclusão é que o
Senhor não tem corpo material, e por isso nunca é morto ou mudado de Seu corpo
transcendental".
"Quando a Suprema Personalidade de Deus, Senhor Krishna, deixou
este planeta terrestre em Sua própria forma, nesse mesmo dia, Kali, que tinha
aparecido parcialmente, ficou plenamente manifesto para criar condições não
auspiciosas para aqueles dotados com um pobre fundo de conhecimento".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A influência de Kali só pode ser forçada àqueles que não têm a consciência de
Deus plenamente desenvolvida. Pode-se neutralizar os efeitos de Kali por se
manter plenamente sob o cuidado supremo da Suprema Personalidade de Deus. A era
de Kali começou logo após a batalha de Kurukshetra, mas não pode exercer sua
influência por causa da presença do Senhor. Porém, o Senhor deixou este planeta
terrestre em Seu próprio corpo transcendental, e logo que Ele partiu, os
sintomas de kali-yuga, como observados por Maharaja Yudhisthira antes da
chegada de Arjuna de Dwaraka, começaram a se manifestar, e Maharaja Yudhisthira
presumiu corretamente a partida do Senhor da Terra. Como já explicamos, o Senhor
deixou nossa visão do mesmo modo como o Sol se põe para fora de nossa visão".
"Maharaja Yudhisthira era inteligente o bastante para entender a
influência da era de Kali, caracterizada pelo aumento da avareza, falsidade,
enganação e violência por toda capital, estado, lares e indivíduos. Por isso,
com sabedoria, ele se preparou para deixar o lar, e se vestiu de acordo".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A era atual é influenciada pelas qualidades específicas de Kali. Desde os dias
da batalha de Kurukshetra, cerca de cinco mil anos atrás, a influência da era de
Kali começou a se manifestar, e aprendemos das escrituras autênticas que a era
de Kali ainda tem mais 427.000 anos. Os sintomas de kali-yuga, como
mencionado acima, são avareza, falsidade, diplomacia, enganação, nepotismo,
violência e esses tipos de coisas, que já estão em voga, e ninguém pode imaginar
o que acontecerá gradualmente com mais aumento da influência de Kali até o dia
da aniquilação. Nós já aprendemos que a influência da era de Kali se destina
para pessoas ateístas assim chamadas civilizadas. Quem está sob a proteção do
Senhor não tem o que temer dessa era horrível. Maharaja Yudhisthira é um grande
devoto do Senhor, e não tinha necessidade de temer a era de Kali, mas ele
preferiu se retirar da vida familiar ativa e se preparar para voltar ao Lar, de
volta ao Supremo. Os Pandavas são companheiros eternos do Senhor, e por isso
estão interessados na companhia do Senhor mais do que qualquer outra coisa. Além
do mais, por ser um rei ideal, Maharaja Yudhisthira queria se retirar apenas
para dar exemplo aos demais. Logo que haja algum jovem para cuidar dos assuntos
da família, deve-se retirar da vida familiar a fim de elevar a pessoa para a
realização espiritual. Não se deve apodrecer no poço escuro da vida familiar até
ser arrancado fora pela vontade de Yamaraja. Os políticos modernos deveriam
aprender a lição com Maharaja Yudhisthira sobre a aposentadoria voluntária da
vida ativa e deixar espaço para a geração mais jovem. Os cavalheiros idosos
aposentados também devem aprender a lição dele e deixar o lar para a realização
espiritual antes de ser arrancado à força pela morte".
"Deste modo, ele coroou seu neto na capital Hastinapura, que era
educado e igualmente qualificado, como o imperador e senhor de toda a Terra
banhada pelos oceanos".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Toda terra na Terra banhada pelos oceanos estava sob o governo do rei de
Hastinapura. Maharaja Yudhisthira educou seu neto, Maharaja Parikshit, que era
igualmente qualificado, em administração pública nos termos da obrigação do rei
com os cidadãos. Parikshit então foi coroado no trono de Maharaja Yudhisthira
antes de sua partida de volta ao Supremo. A palavra específica usada a respeito
de Maharaja Yudhisthira, vinayinam, é significativa. Por que o rei de
Hastinapura, pelo menos na época de Maharaja Parikshit, era aceito como o
Imperador do mundo? A única razão era que as pessoas do mundo estavam felizes
por causa da boa administração do imperador. A felicidade dos cidadãos era
devido à ampla produção dos bens naturais como grãos, frutas, leite, ervas,
pedras preciosas, minerais e tudo mais que as pessoas precisam. Todos inclusive
estavam livres das misérias corpóreas, ansiedades mentais, e perturbações
causadas por fenômenos naturais e outros seres vivos. Porque todos estavam
felizes em todos aspectos, não havia ressentimento, apesar de acontecerem às
vezes batalhas entre reis de países por questões políticas e de soberania. Todos
eram educados para a obtenção do objetivo da vida, por isso as pessoas eram
iluminadas o suficiente para não brigarem por trivialidades. A influência da era
de Kali se infiltrou gradualmente nas boas qualidades tanto dos reis como dos
cidadãos, deste modo uma situação tensa se desenvolveu entre o governante e o
governado, mas mesmo nesta era de desigualdade entre governante e governado,
pode haver proveito espiritual e consciência de Deus. Essa é uma prerrogativa
especial".
"Depois, ele coroou Vajra, filho de Aniruddha (neto do Senhor
Krishna), em Mathura como rei de Shurasena. Em seguida, Maharaja Yudhisthira
realizou o sacrifício Prajapatya e pôs o fogo em si mesmo para deixar a vida
familiar".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Maharaja Yudhisthira, depois de estabelecer Maharaja Parikshit no trono
imperial de Hastinapura, e depois de nomear Vajra, neto do Senhor Krishna, como
rei de Mathura, aceitou a ordem de vida renunciada. O sistema de quatro ordens
de vida e quatro castas em termos de qualidade e trabalho, conhecido como
varnashrama-dharma, é o começo da verdadeira vida humana, e Maharaja
Yudhisthira, como protetor do sistema de atividades humanas, retirou-se em tempo
da vida ativa como sannyasi, e transmitiu o encargo da administração ao
príncipe educado, Maharaja Parikshit. O sistema científico de
varnashrama-dharma divide a vida humana em quatro divisões de ocupação e
quatro ordens de vida. As quatro ordens de vida brahmachari, grihastha,
vanaprastha e sannyasi devem ser seguidas por todos, sem importar
a divisão ocupacional. Os políticos modernos não querem se retirar da vida
ativa, mesmo quando estão bem velhos, mas Yudhisthira Maharaja, como rei ideal,
retirou-se voluntariamente da vida administrativa ativa para se preparar para a
próxima vida. A vida de todos deve ser organizada para que o último estágio da
vida, pelo menos os últimos quinze ou doze anos antes da morte, seja
absolutamente dedicado ao serviço devocional ao Senhor para a obtenção da
perfeição mais elevada da vida. É realmente tolice dedicar todos dias da vida ao
trabalho lucrativo para o prazer material, porque enquanto a mente estiver
absorta no trabalho lucrativo para o desfrute material, não haverá chance de
sair da vida condicionada, ou cativeiro material. Ninguém deve adotar a política
suicida de negligenciar a tarefa suprema que é obter a perfeição mais elevada da
vida, a saber, a volta ao Lar, a volta ao Supremo".
"Maharaja Yudhisthira abandonou de imediato todas suas vestes,
cinto e ornamentos da classe nobre e ficou plenamente desinteressado e
desapegado de tudo".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Ficar purificado da contaminação material é a qualificação necessária para se
tornar um dos companheiros do Senhor. Ninguém pode se tornar um companheiro do
Senhor ou voltar ao Supremo sem essa purificação. Maharaja Yudhisthira, desta
forma, para se tornar puro espiritualmente, abandonou sua opulência real de
imediato, por deixar suas vestes e ornamentos reais. Kashaya, ou roupa
simples da cor açafrão do sannyasi, indica liberdade de todas vestimentas
materiais atraentes, por isso ele trocou a roupa de acordo. Ele ficou
desinteressado pelo seu reino e família e assim se tornou livre de toda
contaminação material, ou designação material. As pessoas geralmente estão
apegadas a vários tipos de designações, as designações da família, sociedade,
país, ocupação, riqueza, posição e muitas outras. Quando a pessoa está apegada a
essas designações, é considerada materialmente impura. Os assim chamados líderes
humanitários da era moderna são apegados à consciência nacional, mas não sabem
que essa consciência falsa também é outra designação da alma condicionada
materialmente, a pessoa tem que abandonar tais designações materiais antes de se
tornar elegível para voltar ao Supremo. Pessoas tolas adoram esses homens que
morrem pela consciência nacional, mas aqui temos um exemplo de Maharaja
Yudhisthira, um nobre rei que se preparou para deixar este mundo sem essa
consciência nacional. Mesmo assim, ele é lembrado até hoje porque era um grande
rei piedoso, quase no mesmo nível da Suprema Personalidade de Deus Sri Rama.
Porque as pessoas do mundo eram governadas por tais reis piedosos, eram felizes
em todos aspectos, o que tornava bem possível esses grandes imperadores
governarem o mundo".
"Então, ele amalgamou todos os órgãos dos sentidos na mente,
depois a mente na vida, a vida na respiração, sua existência total na
incorporação dos cinco elementos, e seu corpo na morte. Desta forma, como eu
puro, ele se tornou livre de todo conceito material de vida".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Maharaja Yudhisthira, como seu irmão Arjuna, começou a se concentrar e se
livrou gradualmente de todo cativeiro material. Primeiro ele concentrou todas
ações dos sentidos e as amalgamou dentro da mente, ou em outras palavras, ele
voltou sua mente para o serviço transcendental ao Senhor. Ele rogou que como
todas atividades materiais são executadas pela mente em termos de ações e
reações dos sentidos materiais, e como ele ia voltar ao Supremo, a mente ia
interromper suas atividades materiais e se voltar em direção ao serviço
transcendental ao Senhor. Na verdade, as atividades da mente não podem ser
interrompidas, pois são um reflexo da alma eterna, mas a qualidade das
atividades pode ser mudada de matéria para serviço transcendental ao Senhor. A
cor material da mente muda quando a pessoa a lava das contaminações da
respiração vital e em conseqüência a livra da contaminação de repetidos
nascimentos e mortes e a situa na vida espiritual pura. Tudo isso se manifesta
pela incorporação temporária do corpo material, que é um produto da mente no
momento da morte, e a mente se purifica pelo serviço amoroso transcendental ao
Senhor e fica constantemente ocupada no serviço aos pés de lótus do Senhor,
assim não haverá chance para a mente produzir outro corpo material depois da
morte. Ela ficará livre do interesse na contaminação material. A alma pura
ficará apta a voltar para o Lar, de volta ao Supremo".
"Desta forma aniquilou o corpo grosseiro de cinco elementos
dentro dos três modos qualitativos da natureza material, e os fundiu em uma
ignorância e depois absorveu essa ignorância no eu, Brahman, que é inesgotável
em todas circunstâncias".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Tudo que é manifesto no mundo material é produto do mahat-tattva-avyakta,
e as coisas que são visíveis para nossa visão material são nada mais além de
combinações e permutações de tais produtos materiais variados. Mas o ser vivo é
diferente desses produtos materiais. É devido ao esquecimento do ser vivo de sua
natureza eterna como servo eterno do Senhor, e seu conceito falso de ser o assim
chamado senhor da natureza material, que o obrigam a entrar na existência do
falso prazer sensual. Deste modo, a geração simultânea de energias materiais é a
causa principal da mente ficar afetada materialmente. O corpo material de cinco
elementos é produzido dessa forma. Maharaja Yudhisthira reverteu a ação e fundiu
os cinco elementos do corpo nos três modos da natureza material. A distinção
qualitativa do corpo ser bom, mau ou medíocre foi extinta, e as manifestações
qualitativas foram novamente fundidas na energia material, que é produto do
senso falso do ser vivo puro. Quando a pessoa tem a tendência para se tornar um
companheiro do Supremo Senhor, a Suprema Personalidade de Deus, em um dos
inumeráveis planetas do céu espiritual, especialmente em Goloka Vrindavana, tem
que pensar sempre que é diferente da energia material, não tem nada a ver com
isso, e tem que realizar que é espírito puro, Brahman, qualitativamente igual ao
Brahman Supremo (Parameshvara). Maharaja Yudhisthira, depois que entregou seu
reino a Parikshit e Vajra, não pensava que era o imperador do mundo ou o líder
da dinastia Kuru. Esse senso de liberdade das relações materiais, bem como a
liberdade do cativeiro material do envolvimento grosseiro e sutil, tornam a
pessoa livre para agir como um servidor do Senhor, mesmo se está dentro do mundo
material. Esse estágio se chama jivan-mukta, ou estágio liberado, mesmo
no mundo material. Assim é o processo de acabar com a existência material. A
pessoa não só tem que pensar que é Brahman, mas também agir como Brahman. Aquele
que acha que é Brahman é um impersonalista. E aquele que age como Brahman é um
devoto puro".
"Depois disso, Maharaja Yudhisthira se vestiu com roupas velhas,
deixou de comer comida sólida, tornou-se mudo voluntariamente e deixou seus
longos cabelos soltos. Tudo isso fez com que parecesse um maltrapilho ou louco
desocupado. Ele não dependia de seus irmãos para nada. E como um surdo, não
ouvia nada".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Quando ficou livre de todos negócios materiais, não tinha mais nada com a vida
imperial ou prestígio familiar, e para fins práticos começou a atuar exatamente
como um maltrapilho louco sem atividade e não falava de assuntos materiais. Ele
não dependia de seus irmãos, que o ajudavam até então. Esse estágio de
independência plena de tudo se chama estágio purificado do destemor".
"Então, ele partiu para o norte, pelo caminho aceito pelos seus
antepassados e grandes homens, para se dedicar plenamente à lembrança da Suprema
Personalidade de Deus. E vivia dessa forma onde quer que estivesse".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Entendemos neste verso que Maharaja Yudhisthira seguiu os passos de seus
ancestrais e grandes devotos do Senhor. Nós já discutimos várias vezes sobre
esse sistema varnashrama-dharma, que era seguido estritamente pelos
habitantes do mundo, especialmente pelos habitantes da província Aryavarta do
mundo, com ênfase na importância de deixar todas conexões familiares em certo
estágio da vida. O treinamento e educação eram dados dessa forma, em
conseqüência uma pessoa respeitável como Maharaja Yudhisthira tinha que deixar
toda conexão familiar para a auto-realização e volta ao Supremo. Nenhum rei ou
pessoa respeitável continuava na vida familiar até o fim, porque isso era
considerado suicídio e contra o interesse da perfeição da vida humana. A fim de
se livrar das incumbências familiares e se dedicar cem por cento ao serviço
devocional ao Senhor Krishna, esse sistema é sempre recomendado para todos
porque é o caminho da autoridade. O Senhor instrui no Bhagavad-gita
(18.62) que a pessoa deve se tornar devota do Senhor pelo menos no último
estágio da sua vida. Uma alma sincera como Maharaja Yudhisthira deve cumprir as
instruções do Senhor para seu próprio bem.
As palavras específicas brahma param indicam o Senhor Sri Krishna. Como é
confirmado no Bhagavad-gita (10.13) por Arjuna em referência a grandes
autoridades como Asita, Devala, Narada e Vyasa. Desta forma, Maharaja
Yudhisthira quando deixou o lar e foi para o norte, lembrou o Senhor Sri Krishna
constantemente dentro de si, assim seguiu os passos de seus ancestrais bem como
dos grandes devotos de todos os tempos".
"Os irmãos mais novos de Maharaja Yudhisthira observaram que a
era de Kali já tinha chegado no mundo inteiro e os cidadãos do reino foram
afetados pela prática da irreligião. Por isso, decidiram seguir os passos de seu
irmão mais velho".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Os irmãos mais novos de Maharaja Yudhisthira já eram seguidores obedientes do
grande imperador, e foram educados o bastante para saberem o objetivo supremo da
vida. Desta forma, seguiram seu irmão mais velho com determinação para a
dedicação no serviço devocional ao Senhor Sri Krishna. Segundo os princípios de
sanatana-dharma, a pessoa deve se retirar da vida familiar depois que
acabar metade da duração da vida e deve se dedicar à auto-realização. Mas a
questão de se dedicar não é sempre determinada. Às vezes, as pessoas aposentadas
ficam confusas sobre como se ocuparem nos últimos dias da vida. Aqui está a
decisão de autoridades como os Pandavas. Todos eles se dedicaram favoravelmente
ao cultivo do serviço devocional ao Senhor Sri Krishna, a Suprema Personalidade
de Deus. De acordo com Swami Sridhara, dharma, artha, kama
e moksha, ou atividades lucrativas (religiosidade material,
desenvolvimento econômico, prazer sensual e liberação) não são o objetivo máximo
da vida. Mas são praticadas mais ou menos por pessoas que não têm informação
sobre o objetivo supremo da vida. O objetivo supremo da vida já foi indicado
pelo Senhor em pessoa no Bhagavad-gita (18.64), e os Pandavas eram
inteligentes o bastante para seguirem sem hesitação".
"Todos eles realizaram todos princípios da religião, e como
resultado decidiram corretamente que os pés de lótus do Senhor Sri Krishna são a
meta suprema da vida. Desta forma, meditaram em Seus pés sem interrupção".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"O Senhor afirma no Bhagavad-gita (7.28) que somente as pessoas que
fizeram ações piedosas em suas vidas prévias e se tornaram livres dos resultados
dos atos impiedosos podem se concentrar nos pés de lótus do Supremo Senhor Sri
Krishna. Os Pandavas, não apenas nesta vida com também em suas vidas prévias,
sempre realizaram o trabalho piedoso supremo, e por isso estão sempre livres de
todas reações do trabalho impiedoso. Portanto, é bem lógico que concentraram
suas mentes nos pés de lótus do Supremo Senhor Sri Krishna. Segundo Sri
Visvanatha Chakravarti os princípios de dharma, artha, kama
e moksha são aceitos por pessoas que não estão livres dos resultados das
ações impiedosas. Essas pessoas afetadas pelas contaminações dos quatro
princípios mencionados não podem aceitar os pés de lótus do Senhor no mundo
espiritual. O mundo Vaikuntha está muito além do céu material. O céu material
está sob a direção de Durga Devi, ou energia material do Senhor, mas o mundo
Vaikuntha é dirigido pela energia pessoal do Senhor".
"Assim, com a consciência pura devido à lembrança devocional
constante, eles alcançaram o céu espiritual, que é governado pelo Supremo
Narayana, Senhor Krishna. Isto só é conseguido pelos que meditam no único
Supremo Senhor sem desvio. A morada do Senhor Sri Krishna, conhecida como Goloka
Vrindavana, não pode ser alcançada por pessoas que estão absortas no conceito de
vida material. Mas os Pandavas, limpos de toda contaminação material, alcançaram
essa morada em seus mesmos corpos".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"De acordo com Srila Jiva Goswami, a pessoa livre dos três modos da natureza,
chamados bondade, paixão e ignorância, e situada na transcendência pode alcançar
a perfeição mais elevada da vida sem mudar de corpo. Srila Sanatana Goswami
afirma em seu Hari-bhakti-vilasa que uma pessoa, seja lá quem for, pode
alcançar a perfeição do brâmane duas vezes nascido por se submeter às ações
disciplinadoras espirituais sob a guia de um mestre espiritual fidedigno,
exatamente como um químico pode transformar bronze em ouro com a manipulação
química. Portanto, essa é a orientação verdadeira sobre o processo de como se
tornar um brâmane, mesmo sem mudar de corpo, ou para ir de volta ao Supremo sem
mudar de corpo. Srila Jiva Goswami enfatiza que a palavra hi usada a esse
respeito afirma positivamente essa verdade, e não há dúvida sobre essa posição
verdadeira. O Bhagavad-gita (14.26) também confirma essa afirmação de
Srila Jiva Goswami onde o Senhor diz que qualquer pessoa que executa serviço
devocional sistematicamente sem desvio pode obter a perfeição de Brahman por
superar a contaminação dos três modos da natureza material, e quando a perfeição
Brahman avança mais ainda pela mesma realização do serviço devocional, não há
nenhuma dúvida que a pessoa pode alcançar o planeta espiritual supremo, Goloka
Vrindavana, sem mudar de corpo, como já discutimos sobre a volta do Senhor para
Sua morada sem mudança de corpo".
"Vidura, enquanto peregrinava, deixou seu corpo em Prabhasa.
Porque estava absorto na lembrança do Senhor Krishna, foi recebido pelos
habitantes do planeta Pitriloka, onde retornou a seu posto original".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"A diferença entre os Pandavas e Vidura é que os Pandavas são companheiros
eternos do Senhor, a Suprema Personalidade de Deus, enquanto Vidura é um dos
semideuses administrativos encarregado do planeta Pitriloka e é conhecido como
Yamaraja. As pessoas têm medo de Yamaraja porque ele é o único que executa a
punição dos pecadores no mundo material, mas quem é devoto do Senhor não precisa
ter medo dele. Para os devotos, ele é um amigo cordial, mas para os não devotos,
é o medo personificado. Como já discutimos, sabemos que Yamaraja foi amaldiçoado
por Mundaka Muni para se degradar como um shudra, desta forma, Vidura é
uma encarnação de Yamaraja. Como é um servidor eterno do Senhor, ele demonstrou
suas atividades devocionais com muito ardor e viveu uma vida de pessoa piedosa,
tanto que um materialista como Dhritarastra também obteve a salvação com suas
instruções. Por causa de suas atividades piedosas no serviço devocional ao
Senhor, ele era capaz de lembrar sempre dos pés de lótus do Senhor, assim se
purificou de toda a contaminação de seu nascimento como shudra. No fim,
foi recebido novamente pelos habitantes de Pitriloka e restabelecido em sua
posição original. Os semideuses também são companheiros do Senhor sem o contato
pessoal, enquanto os companheiros diretos do Senhor estão em contato constante
com Ele. O Senhor e Seus companheiros pessoais encarnam constantemente nos
vários universos sem cessar. O Senhor lembra tudo, enquanto os companheiros
esquecem por serem partes e parcelas ínfimas do Senhor, por serem
infinitesimais, têm a tendência de esquecer esses incidentes. O Bhagavad-gita
(4.5) confirma".
"Draupadi também viu que seus esposos, sem se importarem com
ela, deixaram o lar. Ela sabia bem sobre o Senhor Vasudeva, Krishna, a Suprema
Personalidade de Deus. Tanto ela quanto Subhadra se absorveram na lembrança de
Krishna e alcançaram os mesmo resultados de seus esposos".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"Ao pilotar um avião, a pessoa não pode cuidar de outros aviões. Cada um tem que
cuidar de seu próprio avião, e se houver algum perigo, nenhum outro avião pode
ajudar o outro nessa situação. Similarmente, no fim da vida, quando a pessoa tem
que voltar ao Lar, de volta ao Supremo, cada um tem que cuidar de si mesmo sem a
ajuda prestada por outros. Entretanto, a ajuda é oferecida no chão antes do vôo
no espaço. Similarmente, o mestre espiritual, o pai, a mãe, os parentes, o
cônjuge e outros podem prestar ajuda durante a vida da pessoa, mas quando
atravessa o oceano, a pessoa tem que cuidar de si mesma e utilizar as instruções
recebidas anteriormente. Draupadi tinha cinco esposos, e nenhum pediu a Draupadi
para vir, Draupadi teve que cuidar de si mesma sem contar com seus grandes
esposos. E como já era bem treinada, concentrou-se de imediato nos pés de lótus
do Senhor Vasudeva, Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. As esposas também
obtiveram o mesmo resultado que seus esposos, da mesma forma, ou seja, elas
alcançaram o destino Supremo sem mudança de corpo. Srila Visvanatha Chakravarti
Thakura indica que tanto Draupadi quanto Subhadra, apesar de seu nome não ser
mencionado aqui, obtiveram o mesmo resultado. Nenhuma das duas teve que deixar o
corpo".
"O tema da partida dos filhos de Pandu para a meta suprema da
vida, de volta ao Supremo, é plenamente auspicioso e perfeitamente puro. Por
isso, qualquer pessoa que ouve esta narração com fé devocional obtém com certeza
o serviço devocional ao Senhor, a perfeição mais elevada da vida".
Iluminação de Srila Prabhupada:
"O Srimad Bhagavatam é a narração sobre a Suprema Personalidade de Deus e
os devotos do Senhor como os Pandavas. A narração sobre a Suprema Personalidade
de Deus e Seus devotos é absoluta em si, por isso que ouvi-la com uma atitude
devocional é se associar com o Senhor e os companheiros constantes do Senhor. A
pessoa pode alcançar a perfeição mais elevada da vida, a saber, voltar ao Lar,
de volta ao Supremo, pelo processo de ouvir o Srimad Bhagavatam sem
falha".
Assim terminam os significados Bhaktivedanta do Capítulo Quinze
do Primeiro Canto do Srimad Bhagavatam, chamado "Os Pandavas Se Retiram
em Tempo".
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